quarta-feira, 4 de abril de 2012

Cristalização? Vitrificação? - Cuidado com as ofertas milagrosos


Assim como ocorrem com produtos e serviços de todos os tipos, o mercado automotivo está repleto de ofertas chamativas (e muitas vezes milagrosas) para encantar o consumidor. Alguns termos são de encher os olhos: “vitrificação”, “cristalização” e “polimento cristalizado” estão entre os mais conhecidos, estampados em muitas concessionárias, lojas e empresas especializadas em embelezamento automotivo.

Infelizmente, ainda hoje, a mídia “do povo” não se aprofunda no assunto e acaba propagando informações errôneas, ao invés de elucidar seus leitores e espectadores. O resultado disso são pessoas que, por inocência, acabam pagando por um serviço que jamais levarão para casa.

Há até mesmo promessas de proteção por 1, 2 ou até 3 anos contra “ação da natureza, maresia e sujeira”. Para infelicidade dos amantes de carros, isso não existe. Por melhor que seja o polímero sintético, a cera natural, o “glaze” ou o composto polidor, não é possível proteger uma pintura da poluição, pó de freio, detritos das ruas e agentes naturais por tanto tempo.

Os cuidados com um carro novo são simples: basta lavá-lo da maneira correta e mantê-lo protegido (seja com cera, selante ou o seu produto favorito) para garantir brilho intenso e repelência a água. A duração disso depende simplesmente da limpeza correta e da qualidade do produto utilizado. Com o tempo, a proteção se esvai, e novamente é hora de aplicá-la.

Em um carro com defeitos na pintura (“swirls” ou “teias de aranha”, oxidação da pintura — não confundir com ferrugem, manchas, arranhões), é necessário fazer a correção. Ao contrário do que muitos “polidores” pregam, não basta usar uma boina de lã e uma “massa de polir #2″.

Esse processo deve ser executado sempre da maneira mais branda possível, para poupar o verniz do veículo, já que todo polimento é abrasivo. Para isso, existem boinas com diversos tamanhos e materais, politrizes roto-orbitais ou rotativas, massas de polir ou “polishes” mais ou menos cortantes e até mesmo com tecnologia micro-abrasiva, que pode ser não-redutiva ou redutiva.

Há alguns lembretes importantes para os dois casos acima:

- Não existe polimento não-abrasivo. Polimento é, por definição, um método de correção, refinamento e acabamento da pintura.

- Cera serve para proteger, e não para polir. Se na embalagem mencionar a palavra “polimento”, tome cuidado: a cera provavelmente tem uma porcentagem de polish abrasivo misturada.

- Alguém já viu a cera de carnaúba em sua forma natural, pura? Pois bem, ela é dura como pedra e não serve para proteger a pintura do seu carro. Quanto mais mole ou líquida for a cera, mais solventes ela contém. Cuidado com rótulos que pregam “90% de carnaúba” ou “100% carnaúba”. Uma cera de boa qualidade é feita de diversos elementos, portanto não se iluda com promessas milagrosas.

O “cuidado automotivo” ou “detail” pode se tornar um interessante hobby para explorar: além de aprender a cuidar melhor do carro, é um exercício de paciência e, sem dúvida, uma maneira muito gratificante para usar o tempo livre.

Para quem se interessar sobre o assunto, vale estudar cada uma das etapas para manter o seu carro brilhando, conservado e com melhor valor de revenda. De forma bastante superficial, podemos resumir:

1) Lavagem

É o processo de limpeza mais básico, normalmente executado com shampoos, luvas de pêlo de ovelha, microfibra, esponjas especiais, entre outras. Também pode ser auxiliado por uma lavadora de pressão e até mesmo shampoo “neve”.

2) Descontaminação

É o processo de remoção de sujeiras impregnadas que não se soltam com a lavagem comum. Para isso, podemos usar removedores de piche, “de-ironizers” (que eliminam contaminação por ferro, normalmente oriunda dos discos e pastilhas de freio) e, é claro, a “clay bar”, uma massa que aliada a um lubrificante (“quick detailer” ou até mesmo shampoo misturado com água) remove elementos que deixam a pintura mais opaca, áspera e sem vida

3) Correção

É nesta etapa que ocorre muita confusão. Muitos “especialistas do polimento” simplesmente lavam o carro e “mandam ver” com a boina de lã, que é a mais agressiva. O resultado normalmente é brilho intenso, mas basta levar o carro ao sol para ver hologramas, marcas de polimento e até mesmo “swirls” causados pela rotação da politriz. A etapa de correção deve poupar a pintura, portanto é importante sempre partir para a solução menos agressiva, estudar o problema a ser resolvido e usar as ferramentas corretas com paciência e ténica quase robótica. A pressa ou a falta de habilidade pode resultar até mesmo em uma pintura queimada!

4) Proteção

Existe uma infinidade de produtos para esse fim. Os mais comuns são derivados de ceras, e estes podem custar de R$ 10 a R$ 1.000 — sem exagero! Há marcas e grifes de diversos países, e inclusive no Brasil existem produtos de altíssima qualidade, mas que não são encontrados em supermercados.

De alguns anos para cá, surgiram também os sintéticos, criados em laboratório. Estes selantes tem acabamento semelhate às ceras, mas muitos deles tem mais capacidade hidrofóbica (repelência a água). Especialistas em cuidados automotivos muitas vezes fazem uma combinação de acordo com seu gosto pessoal, de camadas diferentes de cera e selante para ter um resultado ainda mais bonito.

Não tenha medo de duvidar, questionar e fazer valer o seu dinheiro. Muitas vezes, é mais seguro aprender e fazer em casa (ou mesmo pagar mais por um profissional qualificado e com treinamento), do que rasgar suas preciosas notas.


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